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Bebês Reborn e Outros Atos Inusitados: Manifestos de uma Alma que Grita por Sentido

  • agdagalvaopsic
  • 15 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de jun.


Ultimamente temos visto notícias sobre bebês reborn e outros comportamentos incomuns em nossa sociedade.


Vale dizer: mesmo em tempos em que o simbólico parece silenciado na vida cotidiana, os símbolos não desaparecem — apenas aguardam escuta. E quando são ignorados, a alma pode encontrar outras formas de falar: pelo inesperado, pelo excêntrico, pelo que chamamos de “estranho”.


Convido você, leitor(a), a olhar para essas manifestações com os olhos da alma e a escutá-las com atenção simbólica — não com julgamentos. Pois o que grita por trás desses atos pode não ser loucura, como tantos costumam pensar, mas sim a necessidade profunda de reconexão com o vínculo, com o sentido da própria existência.


Vejamos alguns exemplos:

 

1) 👶 Yasmin Becker e o bebê reborn no hospital

A jovem Yasmin Becker, de 17 anos, moradora de Minas Gerais, viralizou nas redes sociais ao levar seu bebê reborn — um boneco hiper-realista chamado Bento — ao hospital, tratando-o como se fosse um bebê real, alegando que ele "não estava se sentindo bem".


Do ponto de vista junguiano, essa ação pode simbolizar a ativação do arquétipo da Grande Mãe, especialmente em sua dimensão nutridora e protetora.

A maternidade aqui não é biológica — ela é psíquica e simbólica.


Ao cuidar do boneco como um bebê, Yasmin expressa uma função materna interiorizada, talvez não plenamente vivida no plano real, mas profundamente necessária para ela, no plano arquetípico.


O bebê reborn pode tornar-se, assim, um recipiente de afeto, um símbolo vivo de uma necessidade emocional legítima, que encontrou essa forma para se expressar.

 

2) ⚖️ A disputa judicial por um bebê reborn

Outro fato inusitado é o de um casal, em processo de separação, que protagonizou uma disputa na justiça pela guarda de um bebê reborn.


Segundo a advogada Suzana Ferreira, sua cliente considera o boneco parte da família e busca preservar todos os direitos relacionados a ele — incluindo a guarda e a divisão dos custos já investidos na “bebê”, que, segundo ela, foram significativos.


Além disso, a cliente reivindica a administração da conta da bebê reborn no Instagram, hoje em franca expansão e já monetizada.


Embora se trate de um bem patrimonial digital, a conta também funciona como um espelho simbólico: um lugar onde o afeto, antes vivido no íntimo, é projetado e compartilhado publicamente.


Ora, todo símbolo tem poder — e quando uma imagem simbólica (como a de um bebê) é concretizada num objeto carregado de afeto, ela adquire a função de ponte com o inconsciente.


Disputar um boneco como se fosse um filho evidencia o poder simbólico da imagem arquetípica, capaz de mobilizar conteúdos profundos da psique: experiências de perda, abandono, idealizações maternas — ou outras camadas inconscientes que ainda não conseguimos nomear.


Essa disputa, que a muitos pode soar insana, revela-se compreensível sob a perspectiva simbólica: um esforço de preservar um vínculo emocional que talvez represente uma dimensão essencial do Self, uma projeção da Sombra ou a ativação de um Complexo profundo. E ainda, não nos esqueçamos, agora tem valor financeiro também.

 

3) 👩‍👧 Encontro público de mães de bebês reborn

Recentemente, um grupo de mulheres apaixonadas por bebês reborn se reuniu publicamente em um evento que viralizou nas redes.


O encontro envolveu trocas de experiências, apresentações, roupas temáticas e momentos de cuidado coletivo — como se fossem, de fato, mães em um encontro de filhos.


Essa cena, pode ser compreendida como um ritual simbólico espontâneo. Quando a sociedade deixa de cultivar rituais significativos, o inconsciente coletivo pode criar os seus próprios.


Talvez essas mulheres não tenham se reunido apenas para exibir bonecas, mas para vivenciar um vínculo coletivo com o arquétipo da Mãe — reconhecendo e compartilhando, ainda que simbolicamente, sua própria capacidade de cuidar, amar e assumir responsabilidade emocional.


4) 🍽️ O homem que levou uma boneca inflável ao jantar

Nos Estados Unidos, um homem chamou atenção ao levar uma boneca inflável para jantar em um restaurante.


O episódio foi registrado por Tara Eve Bjork, garçonete do RH Rooftop Restaurant, na Carolina do Norte. O vídeo, publicado por ela nas redes sociais, viralizou rapidamente e gerou amplo debate público. Como consequência, a funcionária foi demitida.


A figura da boneca inflável pode ser interpretada como projeção do arquétipo da Anima — o princípio feminino interior da psique masculina.


Quando a Anima não é integrada (ou seja, não é reconhecida como uma dimensão interna e simbólica), ela tende a ser projetada em figuras idealizadas: mulheres inatingíveis, objetos de afeto ou, como neste caso, uma boneca.


A escolha de um objeto inanimado como companhia pode refletir uma tentativa de se relacionar com o próprio feminino interior — porém de forma concreta e defensiva, evitando o encontro real com a alteridade e suas complexidades.


5) 💍 Suellen Carey, Cris Galêra e Maria Bernardete Soares: casamentos consigo mesmas

A influenciadora brasileira Suellen Carey, residente em Londres, realizou uma cerimônia simbólica de casamento consigo mesma. Cerca de um ano depois, anunciou o “divórcio”, explicando que passou a sentir-se cobrada até por si mesma.


Já a modelo e advogada Cris Galêra realizou a mesma cerimônia no Brasil, mas anunciou o “divórcio” apenas três meses depois, afirmando que desejava abrir-se a novas experiências amorosas.


A baiana Maria Bernardete Soares, aos 78 anos, realizou o sonho de infância de se casar na igreja — mesmo sem um noivo. Vestiu-se de noiva e celebrou a cerimônia sozinha, emocionando os presentes.


Vistas simbolicamente, histórias como essas podem representar um gesto em que o indivíduo busca reconhecer sua própria totalidade e firmar um compromisso consigo mesmo.

No entanto, a sologamia — o casamento consigo — pode se tornar apenas uma performance social, que tanto oculta quanto revela o quão frágil ainda é o Self daquele que a realiza.


🌌 Conclusão

Quando olhamos com atenção para os comportamentos que hoje viralizam, percebemos que não se trata apenas de excentricidades, mas de imagens vivas que emergem do inconsciente.


O que parece absurdo pode ser, na verdade, um símbolo tentando nascer em um mundo que, muitas vezes, já não reconhece os símbolos como a linguagem legítima de uma alma que pede socorro.


Cada bebê reborn acalentado como um filho, cada cerimônia de casamento consigo mesmo, cada gesto inusitado e solitário é um ato simbólico — ainda que inconsciente — de alguém tentando restabelecer vínculos com o sentido, com aquilo que foi perdido em seu mundo interno.


Em vez de rir, julgar ou patologizar essas expressões, talvez possamos perguntar:


O que está calado em nossa sociedade, mas ainda assim clama?

Quais símbolos algumas almas ousam encenar de forma explícita — enquanto outras os representam em silêncio, no íntimo de suas vivências?


Como Jung nos mostrou, o inconsciente nos conduz às profundezas — e é lá que os símbolos emergem como mensageiros do que a alma precisa viver.


Em um mundo tão racionalizado e polarizado quanto o nosso, talvez essas manifestações sejam gritos simbólicos que nos convidam a olhar para dentro — onde habita aquilo que realmente precisa ser escutado.


Esses atos, que à primeira vista parecem absurdos, são, na verdade, manifestos — silenciosos ou escancarados — de uma alma que grita por sentido, por amparo, por escuta.

São pedidos velados de ajuda, para que possam seguir em direção àquilo que mais profundamente buscam — e que, talvez, seja o encontro consigo mesmas.


Autora: Agda Galvão

Psicoterapeuta Junguiana

 
 
 

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