Depressão: quando a alma silencia para falar
- agdagalvaopsic
- 22 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 12 de jun.
A depressão é uma das experiências psíquicas mais profundas que um ser humano pode atravessar.
Ela vai muito além da tristeza ou do “sentir-se para baixo”.
É o colapso do sentido, o esvaziamento da energia vital, o distanciamento do próprio eixo.
E, ao contrário do que ainda se pensa socialmente, não é falta de fé, falta de Deus, de força de vontade ou gratidão — é um sofrimento real, complexo e que merece escuta qualificada.
A depressão pode ser vista como um chamado simbólico da alma. Ela aparece quando há uma desconexão entre o ego — essa parte que lida com a vida cotidiana, com as exigências do mundo e as máscaras sociais — e o Self, o centro da psique, onde habita nossa essência.
🌑 A noite escura da alma - Existe uma metáfora popular, muitas vezes associada à visão de Jung sobre a depressão: a de que ela se assemelha a “uma senhora de preto que bate à porta” — e que, em vez de expulsá-la, deveríamos convidá-la a entrar e escutá-la.
Aliás, vale lembrar um ensinamento direto de Jung:
“Aquilo a que você resiste, persiste.”— Carl Gustav Jung, The Philosophical Tree, Collected Works Vol. 13, §126
Esse trecho real e profundo nos lembra que, quando não escutamos os sinais internos (como a dor da depressão), eles continuam se manifestando até que sejam simbolizados e integrados, escutados.
E mais:
“A cura verdadeira pode ocorrer através do sofrimento. A dor nos força a escutar o que o self tem a dizer.”— Parafraseando Jung, com base em CW 17, The Development of Personality
A depressão é, muitas vezes, esse momento limiar. A psique recua, a vida desacelera, as cores se apagam. Tudo isso pode parecer negativo, mas, dentro da visão simbólica, é um movimento natural de recolhimento — a alma se afastando da superfície para reorganizar-se em profundidade.
Essa “noite escura” pode vir após perdas importantes, rompimentos afetivos, traumas, exaustão, ciclos que se encerram ou até mesmo sem uma causa aparente. Mas sempre há algo que pede mudança, reconexão, transformação.
💬 Sintomas que são mensagens - A depressão se manifesta por sintomas que são, em si, mensagens da alma:
• Cansaço físico e mental sem causa evidente
• Sensação de peso ao acordar
• Isolamento social, ainda que não desejado
• Perda de interesse por atividades antes prazerosas
• Alterações no sono e apetite
• Sensação de vazio, apatia ou despersonalização
• Culpa, autocrítica excessiva, sensação de inadequação
A psicologia junguiana não tenta apagar esses sintomas, mas sim escutá-los: o que está tentando nascer em meio a esse colapso? O que já não serve mais e precisa morrer simbolicamente? Que parte de você está sendo chamada a emergir?
🌀 A depressão como rito simbólico - Em muitos mitos e contos antigos, os heróis descem ao submundo, atravessam provações e só então retornam transformados.
Esse é o arquétipo da descida, necessário à alma em certos momentos da vida.
A depressão pode ser exatamente isso: um chamado para descer ao mundo interior, à sombra, aos conteúdos inconscientes que foram deixados de lado em nome da produtividade, da adaptação ou da sobrevivência emocional.
Esse processo, doloroso, pode ser o início do caminho de individuação — termo que Jung usava para descrever o movimento em direção à totalidade do ser. É quando deixamos de viver apenas para agradar, para nos encaixar, e começamos a viver de forma mais coerente com quem realmente somos.
Esse é o espírito da obra junguiana: não eliminar o sofrimento, mas dar-lhe sentido e permitir que ele transforme.
🕯 O papel da psicoterapia - A psicoterapia junguiana oferece um espaço sagrado de escuta — sem julgamentos, sem pressa. Através do trabalho com sonhos, símbolos, imagens, memórias e afetos, a dor começa a ganhar linguagem e sentido.
A terapia não apaga a dor — mas permite que ela se transforme. E, com o tempo, o que era peso pode virar potência. O terapeuta, nesse caminho, atua como um acompanhante de jornada — alguém que oferece presença enquanto a alma se refaz.
🌟 Ninguém está imune - É importante lembrar que a depressão não escolhe classe social, fama, profissão ou nível de consciência. Muitas pessoas públicas já compartilharam, com coragem, suas jornadas com a depressão — e ao fazerem isso, nos mostram que vulnerabilidade também é força.
🧠 J.K. Rowling, autora de Harry Potter, falou abertamente sobre os períodos de depressão profunda que viveu antes de escrever seus livros. Ela descreveu os “dementadores” da série como uma representação simbólica da sua própria experiência com esse estado psíquico sombrio.
🎶 Lady Gaga já falou em entrevistas sobre como a depressão a paralisava emocionalmente — e como a psicoterapia e o autocuidado foram fundamentais para que ela reencontrasse seu centro.
🎤 Demi Lovato, com sinceridade e coragem, compartilhou suas lutas com saúde mental, mostrando que é possível se reconstruir e seguir em frente.
👑 Princesa Diana, uma das figuras públicas mais queridas do século 20, também viveu períodos de depressão e falou sobre a solidão que sentia mesmo em meio à fama — humanizando ainda mais esse sofrimento.
Esses relatos ajudam a combater o estigma e lembrar que: se você sente dor, você não está sozinha(o).
🌿 Palavras que acolhem - Em momentos de dor profunda, não precisamos de respostas prontas — precisamos de presença. Aqui estão algumas palavras que podem tocar quem está em silêncio:
🕊️ “Você não precisa ter todas as respostas agora. Só precisa continuar respirando.
”🌌 “Às vezes, o que chamamos de fim é apenas o início de um novo ciclo.
”🔥 “Dentro de você há algo precioso que ainda não foi revelado. A dor pode estar protegendo isso.”
🕯 “A cura começa quando você permite ser visto em sua dor, sem precisar se explicar.”
🌱 “Você pode caminhar devagar. Mas não precisa caminhar só.”
🌅 Existe vida após a dor? - Sim, existe. A depressão pode parecer o fim — mas, na verdade, muitas vezes é o início de uma nova fase de consciência.
Não é sobre voltar a ser quem você era antes, mas sobre se tornar quem sempre foi, em sua essência, mas que havia sido silenciado. Mesmo nos momentos mais escuros, há uma centelha viva dentro de você, aguardando o espaço e o tempo certos para florescer.
“O que não enfrentamos em nosso inconsciente, acaba se manifestando em nossas vidas como destino.”— Carl G. Jung
Se você está atravessando um momento difícil, saiba que existe ajuda, escuta e caminho. E que você não precisa enfrentar isso sozinha(o).
Com afeto e presença,
Agda Galvão – Psicoterapeuta Junguiana





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