Dia do Trabalho e Ansiedade: Um olhar Junguiano sobre o reflexo do Trabalho na Alma
- agdagalvaopsic
- 1 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de jun.
O Dia do Trabalho pode ser muito mais que uma data comemorativa; pode ser um convite para olharmos com profundidade a relação entre nossa alma e o que fazemos profissionalmente.
No mundo contemporâneo, onde a produtividade é idolatrada, muitos vivenciam ansiedade, abalo emocional e experiências intensas ligadas ao ambiente profissional.
A ansiedade raramente se apresenta apenas como pensamento acelerado. Ela se inscreve no corpo, como se a alma, sufocada, encontrasse ali sua última forma de expressão.
Entre os sintomas mais comuns estão:
tensão muscular persistente
dores de cabeça recorrentes
sensação de aperto no peito ou dificuldade para respirar
palpitações ou batimentos cardíacos acelerados
sudorese excessiva ou mãos frias
distúrbios gastrointestinais (como dor de estômago, náuseas ou intestino irritável)
sensação de fadiga mesmo sem esforço físico
dificuldade para dormir ou sono fragmentado
formigamentos, calafrios ou sensação de “desconexão” com o corpo
Observamos que o corpo se torna, então, um campo de mensagens do inconsciente.
E, em casos mais extremos, esse desequilíbrio dá origem a um fenômeno cada vez mais comum: a síndrome de burnout — um esgotamento físico, emocional e psíquico causado por longos períodos de sobrecarga, desconexão de sentido e exigências desumanas consigo mesmo.
Vale dizer: o burnout é o colapso de uma estrutura psíquica que não suportou mais manter um desequilíbrio arquetípico. O corpo, o coração e a alma clamam por realinhamento.
D’outro turno, a Psicologia Junguiana nos oferece uma perspectiva rica e simbólica para compreender essas vivências, pois cada sintoma pode ser visto como um símbolo que tenta compensar o desequilíbrio psíquico que está ocorrendo.
Jung nos lembra que todos desenvolvemos uma persona, uma máscara social que nos permite atuar no coletivo. No entanto, quando nos identificamos demais com essa máscara profissional — o cargo, a função, o status — corremos o risco de um esvaziamento interno.
Essa ansiedade, que tanto assola trabalhadores modernos, aparece como um sinal simbólico da alma. Não apenas algo a ser "eliminado", mas um mensageiro que sinaliza que algo precisa ser escutado, integrado e transformado — solicitando reconexão com propósitos mais profundos.
No contexto profissional, muitos de nós atuam sob o domínio de arquétipos como o Herói (aquele trabalhador incansável, sempre superando limites) ou o Escravo (aquele outro trabalhador, submisso a estruturas opressoras).
Cada angústia relacionada ao ambiente profissional carrega, assim, uma mensagem psíquica a ser escutada.
Quando esses padrões dominam o ego, a alma protesta — e a ansiedade emerge como símbolo desse conflito arquetípico.
A ansiedade no trabalho pode indicar um descompasso entre a vida exterior (persona) e os movimentos do Self, o centro organizador da psique.
O trabalho perde o sentido quando não contribui para o processo de individuação — aquele caminho em que o ser humano busca o seu “eu” verdadeiro.
Registre-se que, segundo Jung, os sonhos são a via régia para o inconsciente.
Muitos dos nossos dilemas relacionados ao trabalho podem aparecer de forma simbólica no mundo onírico.
Apenas como exemplo ilustrativo, sonhar com uma mesa caindo, um chefe sem rosto, uma fila interminável ou discussões no ambiente profissional são imagens que, dependendo do contexto, podem refletir tensões internas. No entanto, não devem ser interpretadas de forma isolada ou literal, e sim compreendidas à luz da vivência psíquica única de quem sonha.
Hoje, no "Dia do Trabalho", vale a pena perguntar:
Que trabalho me aproxima de mim?
Qual me afasta?
Estou vivendo um chamado ou apenas sobrevivendo?
Enfim: Trabalhar para viver — ou viver para se encontrar?
O verdadeiro trabalho, no sentido simbólico, é aquele que reconcilia a ação com o ser. Que transforma rotina em expressão da alma. Que faz da produtividade uma dança com o mistério.
No fim, não é apenas sobre ter um emprego.
É sobre sentir-se inteiro enquanto se age no mundo. A alma não quer apenas sobreviver... Ela quer viver com sentido!
Que neste Dia do Trabalho, possamos não apenas honrar nossas conquistas, mas também cultivar um espaço simbólico de pausa, escuta e verdade interna — para que o trabalho contribua com o nosso processo de individuação, e não com o nosso esvaziamento; e para que o nosso fazer no mundo esteja, de fato, a serviço do nosso ser.
Autora: Agda Galvão
Psicoterapeuta Junguiana





Comentários