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Ecoansiedade: quando a alma entra em luto pela Terra

  • agdagalvaopsic
  • 20 de jun.
  • 3 min de leitura

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Vivemos um luto que muitos ainda não sabem nomear. Um luto difuso, silencioso, coletivo.


A floresta que queima, o rio que seca, os animais que desaparecem — tudo isso parece acontecer do lado de fora; mas , para quem tem sensibilidade desperta, o impacto é interno: o corpo aperta, o sono falha, a esperança oscila.


Chamamos de ecoansiedade essa angústia emocional diante da crise ecológica. Ela surge como um sofrimento legítimo e crescente diante das mudanças climáticas, da destruição da natureza e da percepção de que o futuro do planeta está em risco.


Mais do que uma preocupação ambiental, é um processo psíquico profundo: uma resposta emocional à ruptura do nosso vínculo com a Terra, esse organismo vivo do qual fazemos parte, mas que muitas vezes tratamos como objeto.

Estamos enlutados. Pela floresta. Pelo clima. Pela beleza natural que talvez nossos filhos não vejam.


Sinais da ecoansiedade:

A ecoansiedade pode se manifestar de forma discreta ou intensa. Os sintomas variam, mas têm em comum o sentimento de desalento e desamparo frente à grandiosidade da crise:

·       Medo constante sobre o futuro do planeta e da humanidade

·       Tristeza profunda ao ver notícias sobre desmatamentos, queimadas e extinções

·       Sensação de culpa por não conseguir “fazer mais”

·       Dúvidas sobre ter filhos ou construir uma vida a longo prazo

·       Impotência, desesperança ou paralisia diante da complexidade dos problemas

·       Conflito interno entre viver com liberdade e responsabilidade ecológica


É como se o inconsciente compreendesse algo que a mente racional ainda tenta negar. A Terra está em sofrimento — e nós com ela.


💔 Quem costuma sentir?

Essa dor não é exclusiva de ativistas ambientais ou cientistas. Ela alcança especialmente os corações atentos.

·       Jovens da geração Z, que cresceram sob alertas de colapso climático

·       Pessoas altamente sensíveis e empáticas

·       Quem tem uma ligação profunda com a natureza

·       Artistas, terapeutas, educadores, cuidadores

·       Pessoas que não se anestesiaram frente à destruição do mundo, etc.


Sentir ecoansiedade não é sinal de fraqueza — é sintoma de consciência e de um amor ainda vivo por algo maior do que o próprio eu.


O inconsciente coletivo e os arquétipos da natureza:

A crise ambiental não afeta apenas o mundo externo — ela mobiliza camadas profundas do inconsciente coletivo.


Na perspectiva junguiana, a destruição da natureza ativa arquétipos universais relacionados à vida, ao cuidado e à fertilidade: o arquétipo da Grande Mãe, da Terra como fonte e sustento, do feminino sagrado e instintivo que habita em cada ser humano.


Quando florestas são devastadas ou rios são contaminados, não sentimos apenas indignação racional — sentimos dor simbólica.

O rompimento com a Mãe Terra toca dimensões arcaicas da alma humana. Algo antigo e essencial é ferido, e essa ferida se manifesta em forma de tristeza, angústia ou vazio psíquico.


A ecoansiedade, nesse sentido, é mais do que uma resposta emocional contemporânea: ela é o reflexo arquetípico de uma ruptura com o sagrado natural. É o inconsciente coletivo ecoando o grito da Terra.


Mas....como lidar?

Não se trata de eliminar a dor, mas de acolhê-la e dar-lhe um lugar simbólico e consciente. Diante do imenso, voltamos ao gesto pequeno. Diante do global, ao íntimo.


Alguns caminhos possíveis:

·       Reaproximar-se da natureza com presença e afeto: caminhar, tocar, escutar

·       Criar rituais de reconexão com a Terra: plantar, agradecer, contemplar

·       Reduzir o consumo com consciência, sem culpa paralisante

·       Expressar a dor: pela arte, pela escrita, pela fala

·       Buscar espaços terapêuticos onde essa angústia possa ser elaborada com acolhimento


A terapia pode oferecer um lugar de escuta profunda para esse sofrimento coletivo, ajudando a transformá-lo em gesto, ação, cuidado.


Quando a dor vira semente:

A ecoansiedade, por mais desconfortável que seja, é um sinal de que ainda nos importamos. É o amor que resiste à indiferença. É a alma dizendo: "eu ainda sinto"; e onde há sentimento, ainda há possibilidade de transformação.


Podemos olhar para esse sofrimento como um chamado para reencantar a relação com a Terra — não como fonte de culpa, mas como portal de consciência. Um novo tipo de espiritualidade pode emergir daí: aquela que se enraíza no corpo, no solo, na interdependência de todas as formas de vida.


Enfim, esperemos que a dor pela Terra nos humanize. Que da ecoansiedade brotem sementes de presença, vínculo e reverência e o reconhecimento de que precisamos deixar algo melhor para as próximas gerações.


Autora: Agda Galvão

Psicoterapeuta Junguiana





 

 
 
 

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