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Setembro Amarelo: a alma que grita em silêncio

  • agdagalvaopsic
  • 4 de set.
  • 3 min de leitura

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Setembro é o mês em que, simbolicamente, iluminamos em amarelo o espaço sombrio da dor psíquica, abrindo portas para o diálogo sobre o suicídio e o sofrimento emocional. Mas, para além da campanha, o que isso nos revela, à luz da Psicologia Analítica?


Para Jung, o sofrimento psíquico profundo é muitas vezes a expressão de uma alma que perdeu o contato com o centro de si mesma. Não é apenas um sintoma, mas um grito do Self – esse núcleo central e organizador da psique – pedindo reconexão, sentido, direção.


A pessoa que sofre não quer simplesmente desaparecer; quer encontrar alívio, significado e a possibilidade de existir com inteireza.


Em sua obra Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung afirma:

“Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou.”

Essa frase ecoa fortemente no Setembro Amarelo, pois é no inconsciente que habita o sentido perdido – e também a chave para reencontrá-lo.


O sofrimento psíquico frequentemente nasce da cisão entre o ego e o inconsciente, entre a persona que mostramos ao mundo e os conteúdos que reprimimos. É como se o indivíduo estivesse separado de si mesmo, afastado de sua essência e do seu mito pessoal.


A compreensão profunda do sofrimento exige que olhemos com empatia para os complexos psíquicos que envolvem dor, abandono, solidão, fracasso, desamparo.


São imagens arquetípicas potentes, que podem emergir em sonhos, sintomas físicos e emocionais, ou em sentimentos de desesperança.


Não se trata apenas de um estado mental, mas de uma condição existencial. O ego perde seu enraizamento na alma, e o mundo externo perde o brilho.


O suicídio não é fraqueza. É colapso. E todo colapso tem uma origem simbólica que merece ser escutada, não apenas tratada. A dor psíquica que pode levar alguém a desejar interromper sua existência é, em muitos casos, um sinal de que o modo de vida atual perdeu seu sentido.


Jung nos convida a compreender esse sofrimento não como algo a ser silenciado, mas como uma convocação profunda à escuta, à presença e ao cuidado humano.

A Psicologia Analítica nos mostra que o sofrimento é parte do processo de individuação – o caminho de nos tornarmos quem realmente somos.


Quando a alma sofre, é porque a vida perdeu seu eixo simbólico, perdeu a ponte entre o visível e o invisível. O trabalho analítico é, nesse sentido, um resgate: uma escuta profunda que valoriza os símbolos, os sonhos e os afetos, como pistas deixadas pelo inconsciente.

 

Como disse Jung, “não há despertar de consciência sem dor” — e é justamente na coragem de nos voltarmos a essa dor com presença que podemos iniciar uma verdadeira travessia rumo à alma. Não nos curamos ignorando a dor, mas mergulhando nela para entendê-la e transformá-la, ressignifica-la.  


Essa é uma chave fundamental para o Setembro Amarelo: é preciso dar espaço para que o sofrimento fale, se manifeste, encontre expressão. Silenciar a dor é adoecer a alma. É por isso que o acolhimento, a escuta, o espaço terapêutico e as relações verdadeiramente humanas se tornam caminhos para a cura.


Vivemos tempos de hiperconexão digital e desconexão afetiva. As relações superficiais, a cobrança por felicidade constante e a medicalização do sofrimento geram um ambiente hostil para a alma. Como Jung nos alertaria, isso é perigoso, pois sem espaço para o simbólico, perdemos o contato com o sentido da existência. E sem sentido, viver se torna um fardo.


Por isso, é fundamental lembrar: mesmo nos momentos mais difíceis, a psique possui caminhos de regeneração. A alma humana tem uma capacidade profunda de se reconstruir quando é escutada com verdade e ternura.


O impulso de desistir da vida deve ser acolhido com seriedade – não para ser seguido, mas para ser compreendido e transformado com apoio, escuta e presença. O cuidado sincero pode ser o primeiro passo de volta à luz.


Que o Setembro Amarelo nos convide a ir além da prevenção técnica, e nos leve à compreensão simbólica do sofrimento humano.


Que possamos olhar cada ser com reverência, como alguém que carrega um drama sagrado.


E que nunca esqueçamos: até na escuridão mais densa, a alma busca a luz.


Ninguém precisa caminhar só em suas sombras.

A alma sempre encontra um caminho, quando é escutada com amor.

Se precisar, busque ajuda! Falar pode salvar sua vida!

Se precisar — estou aqui.


Agda Galvão


Psicoterapeuta Junguiana




 

 
 
 

1 comentário

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Joana Marques
04 de set.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Texto claro, objetivo e acolhedor. Amei!

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