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Sonhos Repetitivos: o que sua alma ainda tenta dizer?

  • agdagalvaopsic
  • 11 de jul.
  • 4 min de leitura


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Alguns sonhos deixam seu rastro... e voltam... Repetem-se como se a alma estivesse batendo na mesma porta, esperando que, enfim, ela seja aberta.


Segundo a Psicologia Analítica de Jung, isso não é coincidência — é a persistência da psique, insistindo por alguma razão que ainda não foi escutada.


Sonhos recorrentes são mensagens simbólicas insistentes, expressando conteúdos do inconsciente que a consciência ainda não assimilou.


São como discos riscados da alma, repetindo o mesmo refrão até que a dança interior finalmente mude e a música possa ser tocada.


Por que esses sonham voltam?

Quando um símbolo aparece repetidamente, pode indicar, entre outras coisas, que sua mensagem não foi compreendida ou acolhida. O inconsciente insiste — não como punição, mas como um cuidadoso mestre que deseja nosso crescimento.


De outra parte, esses sonhos podem, entre outras inúmeras hipóteses:

·       Revelar conflitos não resolvidos, ligados à infância, traumas ou complexos ativos;

·       Apontar para um desequilíbrio psíquico que precisa ser corrigido;

·       Indicar a necessidade de tomar uma decisão ou mudar uma atitude;

·       Refletir uma transição interna ainda não reconhecida pelo ego.


Na psicologia de Jung, o sonho não é uma produção aleatória da mente, mas uma manifestação viva do inconsciente, uma linguagem simbólica com a qual a alma se comunica.


Quando um sonho retorna repetidamente, ele se transforma numa coreografia secreta do inconsciente... O sonho não está preso em círculos — ele está dançando o que a alma ainda não ousou escutar.

 

Esse retorno constante aponta para algo essencial, Jung escreveu em Dream Analysis:

“O inconsciente tem sua própria vida, e quando os conteúdos reprimidos não são assimilados, eles retornam repetidamente — como sonhos, sintomas, fantasias — tentando compensar a unilateralidade da consciência.”


Assim, o sonho que volta não é erro — é uma repetição sagrada, muitas vezes prenúncio de uma crise. E toda crise, no olhar junguiano, pode ser o início ou parte de um processo de individuação — a busca do tornar-se quem se é, na totalidade.


Para ilustrar a profundidade dos sonhos recorrentes, compartilho um exemplo fictício baseado em imagens universais da prática clínica junguiana.


Imagine uma mulher que sonha repetidamente com um corredor longo e escuro, cheio de portas fechadas. Ao final, uma única porta entreaberta irradia uma luz intensa. Sempre que tenta se aproximar dessa porta, ela acorda com o coração disparado, tomada pelo medo.

Essa cena retorna em diferentes fases da vida, especialmente em momentos de indecisão, estagnação ou crise emocional.


Simbolicamente, o corredor, aqui em nosso exemplo, representa o inconsciente — esse território interno ainda não explorado.

As portas fechadas são aspectos de si mesma esquecidos, negados ou reprimidos. A porta iluminada representa o chamado do Self — o centro organizador da totalidade psíquica — cuja luz, embora curativa, pode parecer ameaçadora ao ego.


Ao longo de um processo simbólico de reflexão e imaginação ativa, essa mulher começa a abrir as portas do corredor. Confronta lembranças, emoções, dons esquecidos. E quando finalmente atravessa a porta luminosa, o sonho muda: ela encontra um jardim florido, e um espaço onde pode correr livremente, símbolo de renovação e integração.


Essa mudança no mundo interior refletiu-se em sua vida naquele momento, pois ela encerrou um relacionamento onde se anulava emocionalmente e iniciou um curso que há anos desejava, mas nunca se permitia. Com isso, recuperou seu senso de identidade e vitalidade.

 

Registre-se que o sonho recorrente pode ser comparado a um labirinto: um arquétipo da jornada interior. Nele, a repetição não é castigo, mas espiral evolutiva.


O ego frequentemente teme o que o sonho revela, pois isso pode desestabilizar a persona — a máscara que usamos para sobreviver no mundo.

É como se a alma dissesse:

“Você ainda não entrou na sala onde está sua verdade. Volte. Escute de novo. Olhe mais fundo... Ainda não chegamos ao centro. Tente outra vez.”

 

Nesses sonhos reiterados, podem surgir, entre tantas outras coisas:

·       Personagens repetitivos: o homem sombrio, a criança ferida, o animal ameaçador;

·       Situações cíclicas: quedas, perseguições, labirintos, perdas;

·       Emoções congeladas: pânico, impotência, fascínio, confusão.


Esses elementos podem representar aspectos da sombra — partes do eu que foram negadas ou esquecidas — e que o sonho apresenta para serem integradas pela consciência. Quando o ego resiste a integrar a sombra, confrontar o animus/anima, ou abdicar de uma posição inflada, o sonho retorna — amoroso, insistente, exigindo escuta.


Jung dizia que a psique se autorregula, buscando sempre restaurar o equilíbrio entre o consciente e o inconsciente. E, no fundo de tudo, silenciosamente, está o Self — arquétipo da totalidade — dirigindo a peça onírica, conduzindo a alma através dos símbolos, mitos e repetições.


Como um alquimista, o Self aquece o caldeirão da transformação até que o ego esteja pronto para transmutar-se.


Há imagens repetidas que atuam como psicopompos — figuras-guia que conduzem o sonhador a um novo estágio de consciência.


Jung afirmou em Jung on Dreams:

“A vasta maioria dos sonhos é compensatória. Eles sempre enfatizam o lado oposto para manter o equilíbrio psíquico.”


Mas o que fazer com um sonho recorrente?

1.   Registrar com atenção amorosa: anote os detalhes do sonho ao despertar — imagens, emoções, símbolos, cores, gestos, sensações. Cada detalhe é uma chave simbólica do inconsciente.

2.   Compartilhar com um analista junguiano: alguém preparado para escutar os símbolos sem reduções racionais, e ajudar a expandir seu sentido à luz dos arquétipos, mitos e imagens coletivas.

Trabalhar com um sonho recorrente é um ato de reverência à alma. Cada repetição é uma mensagem viva, esperando ser escutada no coração da consciência.


Portanto, sonhos recorrentes são convites para o mergulho interior.

“O sonho é uma pequena história que o inconsciente conta para si mesmo, com a esperança de que a consciência escute.”


O sonho recorrente é a alma chamando com ternura firme:

— “Volte aqui. Há algo seu que ficou perdido…Estou te dando a chance de trazer luz ao que está na escuridão te incomodando...”


Por derradeiro, lembre-se de Jung:

“Os sonhos não nos enganam. Eles apenas esperam ser ouvidos.”

E se um dia você sentir vontade de compartilhar esses sonhos...estarei por aqui — para escutar com reverência o que sua alma deseja dizer.


Com carinho,

Agda Galvão

Psicoterapeuta Junguiana

 

 

 
 
 

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